"Que coragem, deixar tudo pra trás...."
Essa é mais uma das frases clássicas que a gente tem ouvido bastante. Mas eu te pergunto, o que seria tudo pra você?
Quando resolvemos colocar o Plano Canadá em prática, a gente sabia que uma das coisas que a gente teria que fazer, sem dó e nem piedade, é desapegar dos nossos bens, ou da grande maioria deles. Temos direito a 2 malas de 23kg cada , mais bagagem de mão. Fora isso, é excesso de peso e custa caro. Então, desde o início, a gente sabia que a mudança seria carregando apenas roupas e objetos bem pessoais.
Assim que saiu nosso visto, começamos a triagem. Várias e várias sacolas de lixo fora (impressionante como a gente acumula coisas!), algumas caixas de recordações e papéis importantes separadas pra guardar na casa da sogra, temporariamente, e três outras arrumações: coisas pra levar, coisas pra doar e coisas pra vender.
Inicialmente fiquei meio apreensiva com essa parte: o que desapegar. Sou consumista, tenho muitas roupas, sapatos, bolsas, etc e apesar de fazer limpa nos armários umas duas vezes por ano, a ideia de me desfazer dessas coisas em grandes quantidades, de uma vez só, me pareceu meio assustadora. Mas entendi logo de cara que ao morar num país onde metade do ano faz um inverno rigoroso, eu precisava me desfazer desse sentimento e ligar a chave da praticidade.
Móveis, eletrodomésticos, utensílios de casa são uma outra questão. Não tive a menor dó de me desfazer. Fomos (e ainda estamos) anunciando aos poucos, combinando que aqueles que são necessários à nossa estadia no apartamento, até entregar pro novo inquilino, serão entregues aos novos proprietários quase na data da nossa ida. As vendas tem ido bem e a grande maioria das coisas
que anunciamos já saíram. E não doeu nadica de nada. Vou te contar que senti até um certo alívio, uma certa leveza, uma sensação boa de que a vida da gente não é feita de coisas. Apenas um item me fez chorar: um espelho de madeira de demolição que eu namorava desde o início do casamento e que só há uns 4 ou 5 anos tive coragem de comprar. Doeu e passou. :-)
Todo esse processo também me fez morrer de orgulho dos meus filhos, que entenderam de cara as necessidades, aceitaram e ajudaram na triagem dos seus livros, brinquedos, etc. Prometemos que a grana da venda dos brinquedos deles será revertida em novos brinquedos pra eles e isso deixou os dois bem animados e cheios de planos (e ai de mim se não passar numa loja de brinquedos em Toronto, já no dia da chegada...).
Mas voltando à afirmação do título do post, te pergunto, coragem porquê?
Nossa família começou há 16 anos. Montamos nossa casa juntos, desde o início, com muito carinho, muito trabalho, aos poucos, no nosso tempo. Mas é uma casa, um apartamento, não é tudo. Podemos ter outras casas, outros talheres, outras roupas, outros espelhos... Já entregamos nosso carro e estamos num alugado, tudo certo. Em Toronto, quem sabe, se precisar, a gente compra um novo. E, de verdade, eu queria não precisar.
Em breve entregaremos nosso apartamento pra um inquilino. Aquilo que seria o nosso bem maior... Mas pera lá! Meus bens maiores estão comigo nessa jornada e estamos determinados a juntos fazer de um novo apartamento, onde quer que esteja, o nosso novo lar.
Te digo, de todo o coração (e com todo o frio na barriga que tá dando, faltando 2 semanas pra essa aventura), que a única coisa que a gente tá deixando são pessoas queridas: família e amigos. E não estamos deixando pra trás. Estamos abrindo mais uma casa pra eles, que terão portas abertas sempre que quiserem no Canadá. Sei que apesar da tristeza da distância, eles estão torcendo muito pra dar tudo certo e embarcando, de alguma forma, nessa jornada com a gente. Aliás, no meio dessa coisa de "família vende tudo", fico feliz em pensar que na casa de várias pessoas queridas estarão lembranças nossas, bem cuidadas. ❤
Vou terminar mostrando o primeiro presente que ganhei pra casa nova, no Canadá. Será nosso amuleto da sorte, feito por uma amiga única e incrível, tipo irmã mesmo. Temos ouvido tantas coisas
boas também, tantas vibrações positivas e desejos reais de boa sorte, tanto amor dos nossos pais e familiares, que tenho certeza de que o TUDO QUE IMPORTA estará conosco, física e mentalmente, em qualquer lugar!
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Encontros e Despedidas
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Que lindo, Flavia. É isso. Seu espelho está indo sim. Basta olhar para sua família e vc se enxergará em cada um deles. 😚
ResponderExcluirIsso aí! Já deu tudo certo! Estou compartilhando de todo este seu sentimento, claro que em menor proporção mas tb me desfiz de muitas coisas, adquiri outras até mesmo com você...tb estou alugando meu apto para outros, sentimento estranho esse...mas o que realmente importa é quem estamos levando conosco e não o que. Quando nos mudamos para Portugal foi o mesmo processo que o seu, só que estávamos no inicio do casamento, era tudo novinho, tudo tão sonhado... deu pena? Deu...mas o conhecimento que ganhamos, a maturidade que conseguimos e o filho que trouxemos conosco na volta valeu a pena e valerá muito a pena para vocês, a torcida é de coração, sejam muito felizes!
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