Acho que já expliquei antes, mas vamos lá... Aqui em Ontário, província que moro no Canadá, a carteira de motorista é tirada em algumas etapas. Primeiro, aos 16 anos, você se torna apto a tirar a G1, carteira inicial, que precisa de uma prova escrita e 20 horas de aulas de direção (contei um pouquinho de como foi minha prova alguns posts atrás). Essa G1 te dá direito a dirigir cheio de restrições e somente com uma pessoa que tenha carteira canadense há mais de 4 anos. E você é obrigado a ficar com ela por um tempo, 12 meses acho, pra poder tentar a G2, carteira intermediária, que te dá um pouco mais de regalias, mas ainda não é a mais completa. A G2 é tirada através de um teste de 15 minutos de direção. E então, só depois de 8 meses da G2 é que você pode fazer prova pra G full, como chamam a carteira final, com um teste que dura cerca de meia hora.
Acontece que quem tem histórico de mais de 3 anos de direção no seu país natal, pode fazer a G1 e aplicar direto pra G, sem precisar esperar os 20 meses. E foi o que fiz: após o teste escrito (no meu caso, como já tinha carteira, não precisei das 20 horas de aula), foi a vez de aplicar pra G full, uma vez que com as restrições da G1, de nada ela me adiantava. E basta dar um google no assunto, que você vai encontrar uma penca de lugares falando sobre as pegadinhas do teste de direção, tanto pra G2, quanto pra G. Muita gente reprova, inclusive. A gente paga uma taxa de 89 CAD e ainda tem que ir com o próprio carro até o centro de exame. Ou no meu caso, que não tenho carro, alugar o serviço de alguém pra emprestar o carro. E foi aí que conheci o Jack, um polonês bem simpático, que trabalha com isso há mais de 20 anos aqui em Toronto e cujo contato apareceu pro meu marido através de um dos tantos grupos de whatsapp do Canadá. O serviço que ele oferece é te buscar numa estação de metrô duas horas antes do teste e rodar algumas vezes, com o candidato na direção, as possíveis rotas de teste, além de alugar o carro pra prova em si. Essa prévia é uma forma bem interessante de se familiarizar com o caminho e aprender alguns macetes.
Como já tinha lido muito sobre pessoas que não passaram por conta das pegadinhas e diferenças com o Brasil, pedi a ele pra fazer uma aula extra, uns dois dias antes do teste, pra ter mais tempo de me preparar. O problema é que a aula extra ele às vezes divide com outra instrutor, Peter, também polonês e simpático, mas muito agitado e que me deixou super nervosa na aula. Me senti uma adolescente que recém completou 18 anos e nunca havia dirigido, de tanto que o cara me corrigia e reclamava do que eu fazia. Foram quase duas horas de aula nesse stress e tive quase certeza de que falharia no exame. Vim pra casa preocupada.
Daí hoje, ao me encontrar com o Jack, fiquei feliz de ver que ele é um cara tranquilão, super relax, que me deixou bem à vontade e, aos poucos, foi me acalmando. Me mostrou o caminho, as pegadinhas, conversou sobre amenidades e quando chegamos no centro de testes em Burlington, cidade vizinha de Toronto, eu tava bem mais confiante e tranquila.
-- Um aparte aqui pra explicar algumas coisas. Claro que dirigir é igual em qualquer lugar, mas os examinadores canadenses são bem rigorosos com algumas coisas como checar o ponto cego em ambos os lados (além dos espelhos) em cada virada ou mudança de faixa. Mas tem que checar meeeeesmo, virando o pescoço! Outra coisa importante é a questão da entrada nas estradas, que PRECISA ser feita a 100km/h, senão você não passa. Só que fazer isso num carro que você não conhece e num lugar que você não tá acostumado a dirigir, não é tarefa das mais fáceis. Fora que todos nós temos vários vícios de direção, que podem levar tudo a perder por melhor motorista que seja. Também importante comentar que o Jack marca a prova em Burlington pois lá as ruas são bem mais tranquilas que Toronto, o que faz com que a prova seja menos complicada. --
Voltando à prova, o centro de exames fica no estacionamento de um shopping. O examinador se apresenta, faz algumas perguntas e entra no carro pra te dar as direções do que fazer nos próximos 30 minutos. Sem muita conversa, só "turn right", "exit left", coisas do tipo. E assim fui, só eu e o tal do Phil, meu examinador. Cometi alguns erros e fiquei meio tensa pois ele comentou na hora, de forma tranquila, mas comentou. Mas consegui não fazer erros graves, lembrei sempre dos tais "blind spots" e da velocidade da highway. No fim das contas, voltamos pro lugar de partida e ele me falou que apesar dos pequenos erros, ele viu que eu já dirijo há bastante tempo e que eu tinha passado. Ufa!
Menos uma coisa pra resolver e mais um passo dado nesse monte de novidades que o Canadá me trouxe. O bacana é que me sinto fortalecida a cada passo que eu dou e sinto que sou capaz de qualquer coisa. O melhor é que agora já podemos alugar ou comprar carro (não que isso esteja nos planos imediatos), o que dá uma sensação extra de liberdade. O melhor é que tudo aconteceu num dia lindo de sol que parecia primavera com temperatura na casa dos 15 graus. Como dizem por aqui, "the best is yet to come...".