sexta-feira, 27 de julho de 2018

As curvas da estrada Canadense

Hoje me dei conta de que não vinha escrever aqui desde meados de Junho. Mil e um motivos me deixaram longe do blog e vou precisar de tempo e organização pra colocar em dia tudo o que aconteceu nessas últimas semanas. 

Num resumo rápido (e que prometo tentar me aprofundar em posts específicos), tive a visita do meu pai, fizemos road trips, tem feito um calor estilo Rio de Janeiro, as crianças entraram de férias, adotamos um gato chamado Oreo e Oliver começou a trabalhar. E é justamente sobre esse último assunto que eu quero escrever hoje.


"O Canadá está cheio de oportunidades". "Quem é de TI tem emprego garantido". Essas foram duas frases que ouvimos muito nas nossas pesquisas antes de vir pra cá e ambas nos motivaram bastante. Oliver, meu marido, é analista de sistemas, gerente de projetos e tem uma experiência imensa em setores que a gente via como muito promissores por aqui. 

Só que as coisas não foram tão fáceis quanto pareciam. Tudo se ajeitou e nos adaptamos muito bem à vida, ao frio e à rotina da cidade, como já contei em outros posts. Tudo, menos o que parecia mais certo. Conseguir o primeiro emprego foi uma tarefa bem difícil. Complicado explicar exatamente os motivos, mas o fato é que ele fez muitas, dezenas de entrevistas e coisa não rolava. Até que com um pouco mais de 6 meses de Canadá, rolou! Todos falam, que a média de tempo pra arrumar emprego na sua área fica entre 4 e 6 meses e aqui a oportunidade parece que veio aos 45 do segundo tempo.

Só que veio meio torta. A vaga era pra Montreal. Nós moramos em Toronto. 

Uma pequena explicação: Montreal fica na província (estado) de Quebéc, a parte Francesa do Canadá. A língua oficial de lá, como se pode imaginar, é o Francês e a cidade tem uma cara muito mais européia do que Toronto. É possível falar inglês em Montreal no dia à dia. Lojas, restaurantes e pessoas nas ruas costumam ser bilingues, mas escolas, por exemplo, não. Aliás, essa é a única cidade de Quebéc onde isso acontece, no restante é francês e pronto. Ah, Montreal fica a cerca de 6 horas de carro de Toronto.

Dito isso, vocês podem imaginar que sinuca de bico que a gente ficou, né? Como que faz? Aqui estamos só nós 4, um apoia e dá suporte ao outro. Um ajuda na rotina do outro pra que tudo funcione bem, já que não dá pra contar com ajuda dos nossos pais opus familiares. A gente aprendeu a contar, mais do que nunca, com o nosso grupinho de 4!

Num primeiro momento o pensamento inicial seria: mudam todos pra Montreal, ora bolas. Só que a coisa não é tão fácil assim. A empresa onde Oliver foi trabalhar é inglesa e, lá dentro, todos falam inglês. Tranquilo pra ele. Mas os colleges pra onde eu poderia transferir o meu curso de design tem aula em francês. E mesmo se eu achasse um que tivesse a opção de aula em inglês, ainda teria uma questão bem complicada: os meninos! Não seria legal mexer com eles nesse momento em que estão começando a formar laços com a escola e com o inglês. Não ainda. 

Mas também não dava pra perder a oportunidade do Oliver começar a trabalhar, conquistar a tão falada experiência Canadense no currículo e voltar a crescer profissionalmente. A decisão, então, foi ele ir pra Montreal e nós ficarmos em Toronto. Com um sistema de transporte bacana, é possível o bate e volta todo fim de semana.

Só que isso acaba trazendo outras questões que me assustaram de cara. Nunca tive medo de ficar sozinha e cuidar das crianças. Mas num outro país, e se algo acontecer? E se.... Não tem muito jeito, né? Meus horários do college também passaram a dar uma "rebolada" maior. Tive que me ajustar e aprender a correr ainda mais atrás do prejuízo, já que sozinha, nem sempre consigo chegar na hora certa das aulas (os horários de escola, college e summer camp às vezes batem). Tenho contado com a boa vontade de professores que me deixam chegar um pouco atrasada (prometi a mim mesma que corro atrás e entrego tudo em dia) e com a super ajuda da minha amiga Patricia, que faz aulas comigo e já chega na sala ligando meu computador e deixando tudo pronto pra eu não perder muito tempo ao chegar. 

O dia à dia acaba sendo bem corrido e tenho estado muito mais cansada pra dar conta de tudo. A vida sem empregada, carro e ajuda externa, que antes era dividida por dois, agora é cuidada apenas por mim, mesmo Oliver dando uma boa mão nos finais de semana. Vou te contar que não tá fácil, mas é gratificante ver que tem dado certo e que apesar de pesado, eu tenho conseguido dar conta. Os meninos tem sido muito companheiros e o clima de saudade durante a semana tem deixado nós 4 mais grudados nos finais de semana. 

No meio dessa bagunça toda, pude contar também com a ajuda do meu pai, que esteve aqui de final de junho a meados de julho e me ajudou a cuidar das crianças e nos acompanhou até Montreal na "mudança"do Oliver. Também vou contar com a ajuda da minha mãe que chega daqui a alguns dias e passará quase todo o mês de agosto conosco. 

Olho pra trás e lembro de quando pensamos "vamos tentar o Canadá?". Sabia que a gente teria que abrir mão de muitas coisas, voltar algumas casinhas no jogo da vida e que por diversas vezes as situações seriam duras. Mas agente nunca pensou que teríamos de enfrentar a distância, além daquela que já enfrentamos do Brasil. A gente achou que estaria juntos, sempre. Mas acredito que esse sejam mais um obstáculo que a gente vai passar em família, fortalecendo nossos laços, rumo ao nosso objetivo maior: dar uma qualidade de vida decente pra nós e nossos filhos. 

Por quanto tempo essa situação vai se manter, é uma incógnita. Podemos um dia ir de vez pra Montreal. Oliver pode um dia voltar pra Toronto. Podemos mudar pra outra cidade Canadense que não essas, em busca de mais sossego.... Enfim, se tem uma coisa que aprendi, desde que esse Projeto Canadá começou, é a não antecipar problemas e que as coisas se ajeitam. Nem sempre do jeito que a gente esperava, mas tudo se ajeita e fica bem. 

Por hora, estamos felizes que mais um passo foi dado. O caminho é longo, às vezes duro, mas estou amando cada momento. Sem arrependimentos. 


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