quinta-feira, 26 de abril de 2018

Atentado em Toronto

Estou desde segunda querendo escrever, mas essa está sendo uma semana super puxada, pois minhas  provas e trabalhos finais do semestre precisam ser entregues. Hoje consegui uma folguinha e vi coisas tão lindas sobre o que queria escrever, que decidi que era a hora vir aqui contar.

Acredito que todos tenham visto, nos noticiários, o atentado que teve aqui em Toronto, na última segunda-feira. Um homem de 25 anos, dirigindo uma van de aluguel, atropelou propositalmente pedestres nas ruas, matando 10 pessoas e ferindo outras 13. Era 1 e meia da tarde, plena hora de almoço de um lindo e ensolarado dia de primavera (que finalmente chegou). Trata-se do maior atentado da história do Canadá.

Tudo o que foi dito acima já é terrível o bastante, mas acabou sendo mais impactante pra gente, pois aconteceu do ladinho de casa mesmo, a cerca de dois quarteirões, num local por onde passamos sempre. E em frente à natação do Joca! Quando nos demos conta do que tinha acontecido e de onde tinha sido, rolou um certo baque. Afinal, o Canadá sempre pareceu ser um país muito seguro e pensar num atentado, que podia ser terrorista, tão perto de casa, é meio perturbador.  As duas fotos acima foram tiradas da minha varanda. A primeira, para mostrar onde ocorreu um dos atropelamentos - quarteirão seguinte ao último prédio à esquerda. Na segunda, onde o cara foi finalmente preso - quarteirão seguinte à esquerda da foto. Tudo muito, muito perto de casa. Percebam a rua vazia, bloqueada. 

A medida em que as notícias foram sendo divulgadas, tomamos noção da proporção da tragédia, mas também ficamos mais tranquilos por ver que não havia sido um atentado terrorista (motivações políticas ou religiosas), mas sim mais um caso de alguém perturbado que resolver tirar a vida dos outros pra minimizar suas dores. Ao que tudo indica, o autor dessa tragédia é alguém com sérios problemas de relacionamento e faz parte de um grupo chamado de INCEL, pessoas que tem falta de atividades sexuais e culpam as mulheres por isso. Pois é... agora tem mais essa! 

Porém, minha ideia com esse post não era, na verdade, contar o que aconteceu, mas sim a visão de alguém de fora e que pode observar, de perto, como a cidade reagiu. Pra início de conversa, o que mais de chamou atenção foi a abordagem policial sobre o suspeito. O oficial não disparou um tiro sequer pra prender o cara e toda a ação foi filmada por pessoas que estavam próximas (e aconteceu a dois quarteirões daqui, pro lado oposto de onde ele atropelou algumas pessoas). O policial está sendo tratado como herói e super aplaudido pelos moradores. E não é pra menos, né? Pra quem tá acostumado com a loucura das balas perdidas do Rio de Janeiro, essa é uma coisa a ser muito aplaudida!

Logo após o incidente (eu tava saindo de casa, a caminho do college), ouvi e vi uma quantidade surreal de carros de resgate, polícia, ambulância e bombeiros passando. Um barulho ensurdecedor. Era claro que algo sério tinha acontecido, mas só entendi as proporções qdo saí do metrô. A notícia já estava em todos os jornais, inclusive do Brasil e minha preocupação foi, imediatamente, avisar meus pais de que tava tudo bem. 


De casa, Oliver avisou que haviam fechado a rua ao lado da minha e assim como o comércio. Foi meio complicada a volta pra casa, pois estações de metrô foram fechadas também. Eu que costumo sair na Yonge St. (a rua do atentado e que estava fechada - a maior da cidade, que liga ponta à ponta), tive que bater cabeça até achar um caminho alternativo pra chegar em casa. Mas cheguei. E a sensação era bem estranha. A rua, normalmente bem movimentada, estava cercada de fitas amarelas da polícia, oficias andando de um lado pro outro como se procurassem qualquer pista pelas ruas e um silêncio imenso. Cheguei a filmar a saída do metrô pra rua, como vocês podem ver aí acima. Tudo ficou fechado até quase o início da noite do dia seguinte, quando finalmente reabriram ruas, calçadas e lojas. 

No dia seguinte, aliás, a cidade ainda estava tentando entender o que tinha acontecido e a sensação era de perplexidade. Como algo assim teria acontecido num lugar tão tranquilo? Os dias passaram e as coisas começam a tomar mais o rumo da normalidade, mas não sem a gente ver uma enxurrada de ações da prefeitura, colleges, ongs, comércio local, etc. Todos querem ajudar de alguma forma, seja oferecendo recursos financeiros pras vítimas, ajuda psicológica pra quem estava lá e pra quem não estava também (mas se sente triste), um ombro amigo, etc. Uma mobilização tão bonita e que combina muito com o espírito acolhedor da cidade. Recebi ligações até do meu corretor de imóveis perguntando se estávamos bem (ele sabe que moramos bem próximos) e se desculpando por nós estarmos tendo essa "impressão" da cidade. Me comoveu.

Hoje fui ao mercado, que fica em frente à praça onde algumas pessoas foram atropeladas. Tinha uma movimentação bem grande de pessoas fazendo vigília com flores, velas, cartazes e prestando homenagens. E vários carros de TV, entrevistando quem passava por lá. Mas uma coisa, em especial, me fez parar e chorar que nem criança - voluntários acompanhados de "therapy dogs" (cachorros terapeutas) estavam ali com seus cães apenas para trazer um pouco de alegria às pessoas. A ideia desses cães é que as pessoas possam fazer carinho e brincar com eles, esquecendo um pouco da dor e aproveitando o carinho e a festa dos cãezinhos. 

E então lá estava eu, que não conhecia nenhuma das vítimas, sentada no chão da praça e brincando com um dos cachorros enquanto chorava. Uma coisa tão simples, mas tão linda, que só mesmo quem gosta e ou já teve um animalzinho desses pode entender. Deu uma saudade imensa da Esther, minha schnauzer que faleceu há quase um ano, mas também deu um orgulho imenso da empatia desse povo canadense, que soube como ninguém se colocar na dor do outro. Falando por mim, Carioca, posso dizer que vi um sopro de vida ali, sabe? Não por achar que não somos capazes de algo parecido, mas é que acho que já estamos tão acostumados à dor da violência, que muitas vezes nos faltam essas ações ou as que existem são insuficientes. E no fim das contas voltei pra casa mais leve e com a sensação, cada vez maior, de que escolhemos o lugar certo para morar. O meu amor por Toronto só aumenta. #torontostrong











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